Santa Clarita Diet: uma comédia familiar sangrenta
- Louise Biolchini
- 10 de ago. de 2018
- 4 min de leitura


Parece bem improvável a existência de uma série "sangrenta e familiar", mas os esforços de Sheila e Joel de manter a família unida e ela saciedade ao mesmo tempo torna Santa Clarita Diet exatamente o que ela é. Apesar dos esforços de produtores e diretores no mundo Hollywoodiano de tentarem manter a comédia durante cenas violentas, isso é constantemente evitado para manter o público alvo - afinal filmes com temáticas sombrias e sem cortes são voltados para adultos, que não estão muito interessados em sátiras. Tornando-a um maravilhoso agrada na mistura de terror com comédia.
A história se foca na família Hammond, uma típica família "perfeita-americana" morando em seus bairros de casas iguaizinhas e cujos maiores problemas são o desejo de um carro pela filha adolescente ou os botões não exatos do forninho recém-comprado, apesar de haver um desejo nítido em Sheila (Esposa e mãe) de ser pelo menos um pouco mais ousada do que é.
Durante um dia de trabalho na vida de corretor de imóveis - existe emprego mais americano que este? - Sheila acaba passando mal e vomitando, como um próprio personagem diz na versão dublada, "pra caramba", até que seu marido Joel a encontra em volta de vomito e sem pulso. Num lapso momentâneo de luto ele abraça a esposa chorando até que... ela acorda! Bem viva e com algumas pequenas diferenças como: estar mais ousada, com mais tesão, um apetite misterioso por carne crua e... Ah! Sem batimentos cardíacos e com sangue espesso.
A família procura a ajuda do mais próximo de um especialista que eles encontram: um nerd "bizarro" chamado Eric, amigo de sua filha adolescente Abbey, que revela que Sheila é uma zumb... Não, uma "não morta", já que a palavra "zumbi" soa muito negativa.
Fiel a seus votos de matrimônio sobre ficar junto da sua esposa "na saúde e na doença", Joel está disposta a tudo para continuar com seu casamento, manter a família unida e ser um bom pai enquanto tenta saciar os desejos por "carne" de sua esposa - tudo sem perder a fachada de ser mais uma família americana normal, exceto que com um pequeno segredo sangrento.

É de praxe que para comédias de terror, haja uma amenização das cenas "mais pesadas", entretanto a série consegue ser realistas o suficiente para deixar os expectadores se perguntam se continuarão simpatizando com a protagonista - Ops, spoiler - mesmo após ela devorar braços e intestinos. Mas é justamento na tentativa, que parecia soar surreal para qualquer um, de Sheila e Joel de manter a família unida e o mais normal possível é a grande chave da serie. Os personagens ainda querem se considerar boa pessoas mesmo com o fato de que a protagonista se vê obrigada a comer outras pessoas para sobreviver, e por isso eles fazem o possível para tentar ter uma consciência tranquila, seja tentando ser bons pais para uma recém-rebelde ou sendo amigáveis até mesmo com o vizinho policial enxerido.
Parece que o climax da história já lhe é contado nos primeiros 20 minutos e o resto seria um prólogo sobre os personagens se ajustaram, porém como é possível um "final feliz" após um climax desse? E é essa curiosidade que faz com que nos prendamos no sofá, ou se frente para o computador, assistindo ansiosamente Santa Clarita Diet - porque os roteiristas e os atores conseguiram nos fazer simpatizar com um zum... quero dizer, uma "não morta" e não se importar com mortes "acidentais" no meio do caminho para a felicidade da família.
Talvez o estilo de vida que os protagonistas tinham no começo soasse muito utópico para os telespectadores brasileiros, mas é justamente essa fachada ilusória que a série quebra desde o primeiro episódio: não existe família perfeita e alguns tem que lidar com problemas reais como: sou uma pessoa, mas preciso matar para comer.
Todos estão perfeitos em seus personagens, até mesmo os mais novos, sendo este um dos seus primeiros trabalhos, a narrativa se torna verossímil - por mais estranho que isso pareça - e as cenas de comédia não nos insultam, sendo bem construídas com piadas inteligentes e situações que provocam risos não forçados - dá-se um acredito para as interpretações neste caso, afinal, Joel pode ser um homem família, mas não um dos mais corajosos e teve que superar suas inseguranças para auxiliar sua esposa e ajudá-la enquanto lidam com sua "doença", termo que mais amplamente utilizado na série.
A série pode ter um nome singelo, mas não tem muita coisa de inocente. Na verdade, esse "diet" sugere um adjetivo mais bem-visto para a dieta alimentar da protagonista, senda esta sendo a primeira serie da carreira de Drew Barrymore e há quem diga que mesmo com todo esse sangue na boca ela não consegue deixar de ser adorável.
Criada pelo serviço de stream Netflix, a série foi um sucesso estrondoso em suas atuais duas temporadas com uma terceira confirmada para 2019, entretanto ela é tão boa que quem vós fala não se importa de rever as reviravoltas já exibidas até então.
Mais do que cumprir sua função de entretenimento Santa Clarita Diet é um maravilhoso agrado na vida de qualquer espectador que exija pelo menos um pouco de inteligência na hora de fazer de comédias, ainda que isso não signifique que a serie exija muito do telespectador para poder aproveitá-la - afinal, ainda é uma comédia familiar.
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